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domingo, 15 de março de 2015

Corpo em movimento





O fotógrafo carioca Guilherme Licurgo lança livro com imagens de bailarinos da Martha Graham Dance Company

Bailarinos com seus corpos impecáveis, tecidos fluidos, ambientes áridos e uma câmera Canon. Isso foi tudo que o fotógrafo carioca Guilherme Licurgo precisou para fazer as mais de 150 imagens do livro "Desert Flower" que traz dançarinos da Martha Graham Dance Company se transformando em flores. Os tecidos são, na verdade, bem mais que isso: são peças do acervo da companhia de dança americana assinadas por estilistas como Oscar de la Renta, Calvin Klein e Donna Karan. O livro será lançado no dia 26 de março, na livraria Argumento no Leblon.
Adoro o movimento dos bailarinos, o corpo é muito plástico. Quando criei o projeto, fotografado entre 2011 e 2014, queria aliar moda, dança e arte _ conta Guilherme. _ Desde a primeira sessão de fotos, feitas na Praia da Barra, vi as flores quando os tecidos eram jogados pelos ares. Ai nasceu a ideia da série.
Foi vendo Terry Richardson com a sua simplérrima Yashica que Guilherme Licurgo se apaixonou por fotografia. O então modelo e advogado estava sendo fotografado para o livro “Rio Cidade Maravilhosa” e ficou impressionado como aquela máquina tão mixuruca podia ter aquele resultado.

— Só Terry, a cena e a câmera minúscula. Aquilo me fascinou e fez nascer a vontade de fotografar. O descompromisso e a leveza me estimularam a seguir na fotografia — conta Guilherme, 30 anos, que acompanhou o fotógrafo americano em outras fotos no Rio e, dois anos depois, em 2010, e já como fotógrafo, voltou a trabalhar com Terry, no calendário Pirelli clicado em Trancoso. — Ele é muito divertido e generoso, características que não são tão comuns nos fotógrafos famosos.
Durante esse tempo ao lado de Terry, Guilherme fez a sua primeira foto: uma imagem do pôr-do-sol, em que o morro Dois Irmãos aparece debaixo de uma das duchas da Praia de Ipanema. Poderia ser só um teste, uma imagem que ficasse de memorabilia para o autor, mas a foto, chamada “Dois irmãos tomando banho”, virou uma das mais famosas dele.
— Foi premiada em um concurso em Berlim, e é das que mais faz sucesso entre colecionadores que compram os quadros das minhas fotos — avisa ele, que fez apenas 15 cópias da imagem.

O clichê “tudo aconteceu muito rápido” cabe perfeitamente na história de Guilherme. No mesmo ano em que começou a fotografar os bailarinos, foi convidado para um projeto para o estilista italiano Roberto Cavalli, em que clicaria imagens artísticas para um livro (que se tornou um edição online). Dividindo o set com o fotógrafo Steven Klein e o diretor Johan Renck, ele criava imagens artísticas para o lançamento de uma coleção do estilista.
— Eu ali, ao lado desses monstros, foi incrível — comenta sobre a sessão. — Nesse mesmo ano, 2011, ganhei o II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea e a foto “Ordre et progrès” passou a integrar o acervo de arte contemporânea do governo brasileiro. É uma imagem que fiz em Paris, subi na roda em Tuileries e vi um recorte que parecia a da bandeira do Brasil, era um quadrado com um chafariz no meio.
A partir daí, tudo aconteceu. Exposição na Itália, assédio de galeristas, fotos em livros da editora Assouline, prêmio da revista “Visionaire” e muitos convites de trabalho. Guilherme fotografou para marcas que vão da Renner a Adriana Barra e Huis Clos. Clicou para revistas como “Lancaster Paris", “Wonderland”, “GQ” e “Vogue”.
— Eu gosto de fotografar quase tudo. Preto e branco, colorido, em estúdio, ao ar livre... Fotografo o que me emociona, deixo transparecer o que sinto mesmo em fotos mais técnicas. Gosto muito de geometria e de linhas retas. Talvez isso seja uma característica do meu trabalho — define ele.
E pensar que ele só tem seis anos de fotografia.


Em paralelo a todos os editoriais de moda e projetos de arte, Guilherme Licurgo se manteve focado nos bailarinos de Martha Graham. Acompanhou turnês da companhia pela Europa e, nos intervalos dos ensaios e apresentações, aproveitava para fotografar.
— Tinha que ser muito rápido. Eles tinham vinte minutos de intervalo — conta Guilherme, que sempre pesquisava cenários antes, mas em quase todas as vezes, precisou encontrar uma outra opção, mais próxima ao teatro. — A primeira etapa era colocar o tênis e correr ao redor do teatro para encontrar algum ponto bom e perto.
Cenário escolhido, ele descobria a hora que o bailarino seria liberado para pensar na luz e planejar a foto — sem ajuda de flash ou rebatedor.
— Eu levava tudo. Os figurinos estavam em uma mala. Na outra, as minhas roupas. A câmera ia na mochila. Por isso, não dava para ter muito equipamento. Nem mesmo um tripé. Em trabalhos de arte, eu prefiro estar só — diz ele, que passou por momentos tensos no processo: na Grécia, um policial interrompeu uma sessão de fotos para exigir que as imagens fossem todas apagadas porque “as poses dos modelos estavam agredindo os deuses”.
Quando foi encontrar os bailarinos para uma sessão nos espaços públicos de Milão, Guilherme teve uma surpresa: chovia sem parar. O jeito foi fotografar os bailarinos em um apartamento. Assim nasceu a série “Desert flower/seeds”, de nus.
— Fiz um pequeno livro que acompanha o principal. Nas 60 fotos, as pessoas parecem sementes antes de brotar — diz.
Quando enviou as fotos para a companhia, recebeu uma carta da diretora artística, Janet Eilber, em que ela dizia que Guilherme “conseguiu captar as convicções essenciais de Martha Graham e elevá-las ao futuro”.
— Chorei por alguns dias — encerra Guilherme.


Fonte: Jornal Ela - O Globo

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