Miriam Bratfisch Santiago (Sorocaba, 1956), mora e trabalha em São Paulo. Cursando atualmente a pós-graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faap, começou a sua formação livre em artes visuais frequentando ateliês de artistas e orientadores como Sérgio Fingermann, Charles Watson, Nino Cais e Carla Chaim, fazendo parte de diversos grupos de studo e produção como o de Thiago Honório e Ana Paula Cohen, e do Instituto Tomie Ohtake, com Pedro França, Paulo Miyada, Galciane neves e Vitor Cesar.
Entre suas exposições destacam-se as individuais Rew<<>>Fwd, realizada pelo Projeto Mesmo Lugar, no espaço Qualcasa, do Hermes Artes Visuais (SP, 2016); Miriam Santiago, Pinturas, no Espaço Henfil de Cultura, da Secretaria de Eduação e Cultura de São Bernardo do Campo (SP, 1997), e as coletivas 15 Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos (SP, 2016); 23 Salão de Artes da Praia Grande (SP, 2016/2017); 48 Anual deArte da Faap (SP, 2016); Contraprova, coletiva do Hermes Arte no Paço das Artes (SP, 2015), 6 Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo do Campo (SP, 2006).
Recebeu o Prêmio Bolsa de Estudos na 48 Anual da Faap (SP, 2016); Menção Especial no 23 Salão de Artes da Praia Grande (SP, 2016); Prêmio Aquisição no 6 Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo do Campo (SP, 2006) e o Prêmio Exposição individual no mesmo Salão.
Diante de acontecimentos que não contaram com nossa presença, a integridade do fato torna-se um insistente cálculo no juízo particular de nosso presente. Paira sobre a leitura do que ocorreu a nativa vontade humana da decifração, desejo capaz de assemelhar qualquer um de nós a uma criança prestes a ler pela primeira vez seu próprio nome. Ao estarmos diante de códigos, veremos sob os olhos de hoje tudo o que nos é ofertado desde a infância, atribuindo significação aos mínimos rabiscos e gestos em uma vida onde saber ler e escrever convoca nossas primeiras atribuições coletivas, sob a ordem dos direitos e deveres. Ao homem letrado, sucede um mundo xerocopiado, onde quase tudo pode ser posto no papel para ser lido depois; e assim criaram e admitiram os dez mandamentos, as ignoradas placas de ttrânsito, as embalagens do leite sem lactose, os classificados do jornal do bairro, os luminosos da Shell. Tudo crente no porvir.
Avistando uma fotografia que não nossa, corremos para as legendas e esquecemos que nem tudo chega por bula. Abro o álbum de minha família e appuro que o olhar d eum cidadão que não conheço se assemelha ao do meu avô de assombrada sobrancelha, a qual herdei. Suponho que o rapaz seja um irmão do meu querido velho, ou um primo próximo, figurando em frentte a uma casa de reboco mais claro que o vestido de uma jovem senhora um tantinho distante que não tenho dúvidas ser minha avó. racejo uma linha da manga de seu vestido à primeira raiz saltadeirae graúda do pé de árvore, pulo a vista por detrás da sombra de suacopa e alcanço um quintal terroso de final dado por uma cerca baixa de estaca e arame. De suspensório, reparando um chão sem aparente motivo, está meu avô.
O passado produz pactos. Na andada da vista, creio parir meu avô naquela fotoggrafia por acreditar em minhas lembranças como um documento de palavras firmes, sem duvidar do que estou lendo,. Não vacilo pensar que seja outro homem que não ele, mesmo avistando-o de costas para a lente da câmera em seu registro. Meu avô, o mais oculto ponto de gente naquela imagem, celebra vitoriosamente minha memória como se eu fosse um menino novo semsaudades. Vencido o tempo, lá estou pedindo a benção, ganhando e mascando caramelos e ouvindo sobre como cesci rápido.
Os trabalhos de Mirim Bratfisch Santiago impulsionam o delírio dos afetos resultantes ddas lembranças no momento que invadimos a imagem do outro e ccravamos nela a nossa herança. Quando roubamos o paletó de um sujeitoque está em suas aquarelas para vestirmos um antigo parente, ou em caravana vamos todos a um casamento na casaque imaginamos ser aquela do tio noivo em Ubatuba, rebatizamosa nós e o nosso lugar no intuito de estarmos mais perto dos ausentes. As dedicatórias emparelhadas às pinturas de mesma dimensão incomodam o acesso à certeza, mas não são suficientes para impor que o ente lembrado não esteve alguma vez no lugar descrito no verso da fotografia. Talvez meu avô nunca quis contar que passou férias no Rio, e talvez meus tios neguem isso, o que é bem diferente dele nunca ter ido lá.
Entre lembranças voluntárias e a vontade de não querer esquecer, Mirim Bratfisch Santiago demarca em suas obras o nosso existir dos outros comouma gigantesca e crescente matéria, um corpo volátil que se espreme para caber em uma única vida.
Curadoria e textos : Allan Adi
Exposição de 6 de abril até 14 de maio 2017
Local: Universidade Federal Fluminense
(Centro Artes Uff)
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