Desejos, saudades, lembranças, loucuras, esperanças, mudanças. Em meio a outras coisas Cecília Meireles nos fala de viver cada dia em sua plenitude de acontecimentos em seu pequeno poema De que são feitos os dias? E que nomeia a Exposição que reúne 10 artistas em torno da experimentação fotográfica, cada qual com sua leitura particular do cotidianoe seus desenlaces, suas possibilidades, as sinistras alianças que fazemos para nos permitirmos uma existência possível em meio a tantas adversidades. Entre mágoas sombrias e lampejos momentâneos, vagas felicidades, como diria a poeta.
Os trabalhos reunidos estão carregados desse olhar sobre as coisas ao redor que, apercebidas, falam de nós mesmos, de nossa vontade inexorável, da virtude humana de querer conhecer, ainda que se mantendo à distância fazendo um parêntese aparentemente trivial, que no entender de Philippe Dubois é o corte depois do índice, isto é, a questão da relação da imagem com o espaço/ tempo depois da relação com o real. Contudo, ainda o resultado dessa aproximação é questionado em alguns momentos em que o ato fotográfico ganha novos parâmetros de entendimento.
O que temos na poética visual de cada um dos integrantes da mostra é o resultado singular de quem observa o mundo e o destaca em alguma particularidade com a potência de uma incisão que abre aos olhos uma pulsão de vida. Cada um se apresenta como uma testemunha casual ou como alguém que simplesmente esbarrou pelo caminho com uma imagem e a tomou para si num gesto de revisão, fazendo de sua coleta um instante subtraído da realidade que se congela e se desenvolve como algo mais que memória, algo que queremos imortalizar e que assim chamamos arte.
Osvaldo Carvalho
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